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“O Brasil inteiro tem celular e ouve música. Então nós temos que educar para a categoria de streaming de áudio, explicar como funciona, temos que desmistificar o uso. É um mercado que tem espaço pra todo mundo e não necessariamente a gente tem uma estratégia para bater de frente com o Spotify. Estamos preocupados em crescer a categoria e ser um player para todos os brasileiros.”

Assim Marcos Swarowsky revela uma de suas primeiras ambições como novo diretor geral da Deezer para o Brasil e América do Sul. De acordo com a Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI), apenas 5% da população brasileira assina algum serviço de streaming musical.

Em entrevista à StartSe, o executivo — que tem passagens pela Diageo, Microsoft, AOL e Expedia — conta que o namoro com a plataforma francesa começou ao final do ano passado, mas que o casamento só veio porque encontrou duas paixões: a gestão completa de um negócio e a música.

“A Deezer é uma empresa que ainda tem a cultura de startup, de agilidade, de fazer as coisas acontecerem. E quem trabalhou comigo sabe que eu sou um profissional de negócio digital, mas muito criativo e fazedor. E é um grande desafio o de trabalhar com música, fazer com que todos os brasileiros tenham acesso a esse tipo de serviço, que faz a diferença em suas vidas com um aplicativo que gera valor para descobrir ou redescobrir músicas no carro, na rua, num jantar em casa”, diz

“E tem um questão muito particular. Eu sempre gostei de trabalhar para o número dois de mercado, como ocorreu quando eu trabalhei para a Microsoft. Eu sempre gostei de ser o under dog, porque me desafia e me faz pensar mais, desperta meu lado criativo de negócio”, complementa.

Desde setembro de 2019, quando o ex-CEO Bruno Vieira foi contratado pela Amazon Music, a Deezer ficou sem uma liderança local fixa. A operação foi conduzida parcialmente pela CCO global Laurence Miall, que ficou responsável por se aproximar dos parceiros comerciais, dos grupos de usuários e artistas, do time de marketing, editorial e negócios.

Seguir crescendo pelo Brasil: 30% em 2019

A Deezer é a segunda plataforma da categoria mais utilizada no mundo (atrás apenas da sueca Spotify), com uma biblioteca de 56 milhões de faixas. E o mercado brasileiro tem grande parte nesse sucesso. Das 100 músicas mais ouvidas no país, 95 são de artistas brazucas. Em 2019, a operação local se transformou na principal da plataforma francesa em seus 180 países, que ao todo somam 14 milhões de usuários. A empresa afirma que cresceu 30% no último ano.

Parte desse sucesso se deve à parceria com a TIM, que traz a maior parte da base de assinantes para o aplicativo. Além da operadora oferecer planos de uso ilimitado ou com desconto para usar o streaming, ela também não cobra a taxa de consumo de dados, algo muito relevante para esse tipo de serviço digital.

Por ser uma companhia de capital fechado, a Deezer não abre números específicos sobre cada região ou faturamento. No entanto, segundo Polyana Ferrari, relações públicas da operação local que acompanhou a entrevista, a empresa tem cerca de 600 funcionários em todo o mundo. “E no Brasil não chega a ser um número de 150 pessoas. É uma estrutura mais rápida, mais ágil”, deixou escapar Swarowsky.

Além do alto investimento em tecnologia, que permite a existência de recursos como o “flow” – uma playlist infinita e personalizada diariamente que aprende com os gostos dos usuários -, os editores responsáveis pela curadoria musical são peças chaves para a popularização do aplicativo no Brasil, apostando na regionalização e em estilos característicos.

A Deezer foi a primeira plataforma de streaming musical a ter um editor especializado em sertanejo e em música gospel. Entre 2015 e 2016, a empresa encomendou um estudo de mercado e entendeu que a segunda maior receita da indústria fonográfica vinha da música de inspiração religiosa, perdendo apenas para o sertanejo. A assessora Polyana relembra que, então, a empresa contratou uma especialista em música cristã, oriunda dessa indústria e que conversa a mesma língua do público desse segmento.

“Fizemos um projeto pioneiro que nenhuma outra empresa tinha feito. Lançamos eventos, trouxemos artistas, conversamos com gravadoras, conversamos com igrejas, fomos até as pessoas para entender o hábito de consumo. Plantamos aquela sementinha, que está brotando. E a gente continua semeando. É um projeto que hoje anda sozinho”, diz a relações públicas.

“Então vocês tão focados em sertanejo e gospel? Não! A gente reflete muito sobre o que as pessoas querem ouvir, porque a gente quer ser o player global, mas com uma pegada local, mais humana”, complementa Swarovsky, ressaltando que o funk, o samba e o pop nacional também são estilos muito consumidos, além do pagodão baiano e do brega funk, que a empresa aponta como tendência no início de 2020.

Os desafios da nova gestão

O relacionamento com os artistas, podcasters e usuários também é outro fator que a empresa acredita se diferenciar no mercado fonográfico de streaming.

“Apesar de ser uma empresa global, a gente atua muito próximo dos artistas e dos usuários. Esse estúdio [onde a entrevista foi realizada] tem mais ou menos 100 criações de conteúdo por ano. Hoje mesmo virá a dupla Fernando e Sorocaba pra gravar o ‘Faixa a Faixa’, um produto que os músicos comentam seu álbum. Isso aproxima muito o usuário, mostra os bastidores. E a gente convida os top streamers para acompanhar e depois participar de um churrasco com o ídolo. Não acho que os outros players tenham esse mesmo cuidado”, provoca Swarovsky.

Questionado sobre o maior desafio como novo head da Deezer, Swarowsky retoma a ideia de educar para o consumo de áudio digital, mas também aponta que a busca por novos modelos de negócios para crescer a base de usuários da Deezer será uma caçada particular.

“O desafio é continuar crescendo, ganhando share, fazendo novos negócios. Por exemplo, ninguém encontrou um modelo ideal para os usuários que usam streaming de música em celulares pré-pagos, o que não favorece uma experiência redonda. Um dos desafios é descobrir qual o modelo de negócios para que todos os brasileiros tenham oportunidade de escutar a Deezer. E ter uma experiência mais humana e personalizada.”

Por fim, o novo diretor geral explica que deseja implementar uma gestão com a participação ampla de seus colaboradores, dividindo o poder de decisões com todos os times.

“Eu tenho um estilo de promover uma gestão mais transparente, coparticipativa. Não tenho a pretensão de tomar todas as decisões. Na prática, eu quero crescer o negócio, que aqui também tem a pegada de crescer a categoria [streaming de áudio], mas também quero que as pessoas criem a empresa onde querem trabalhar, que façam desse ambiente um lugar super legal”, conclui.

 

FONTE: .STARTSE, por Enio Lourenço

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